Bicho papão

Fique à vontade, meu bicho

papão como ninguém,

e deixa-me contar as lágrimas

do arrependimento sofrido.

Sou como você,

meu bicho-papão,

também assustei criança

e adulto matei.

Eu nasci do furacão,

meu pai era o Terremoto,

minha mãe a Tempestade,

nasci para destruir,

desolar, consumir.

Quando jovem e viril

o sangue era meu elixir,

o terror minha razão de viver,

a morte minha companheira.

Agora, que já sou velho,

e meus dias contados,

lamento não ter desfrutado

o sorriso duma criança,

os lábios duma amante,

uma poesia de amor.

De seu papão liberte

as travessuras ingênuas,

os desejos atrevidos,

os sonhos aventurosos,

as fantasias proibidas,

as melhores companhias

na solidão dos aléns.