autismo

eu sou mesmo autista

e de alto de meu mundo

só enxergo eu

e a enorme solidão

que há nas intermináveis repetições

sou a lágrima que vem do nada

e cai imediatamente num vácuo das emoções

e sem sons, ruídos ou vaidades

deixa o corpo rijo e desidratado

eu sou autista

e no labor de arte

esculpo em pedra viva

a dor ausente,

o pressentimento

da finitude,

a arma, a alavanca,

o escudo e o temor a Deus

e, de repente,

de um silêncio rotundo,

do nada fez-se o instante

que me parecia uma eternidade

agonziante a contemplar

terra, fogo, ar e água

e quanta água...

há neste temporal

e na música da borrasca,

na cantiga tilintante

das águas percorrendo solos e pedras

me enlevava ao sono languido

e ao cheiro da terra que rondava

minha infância

e fecundava minha memória

com as raras recordações de menina

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/02/2007
Código do texto: T389737
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