Para quê?

Para quem sabe ouvir

A melodia que escorre pelo olhar

Para quem sabe ouvir

A síncope ritmada de um coração

Para quem sabe ouvir os segredos do mar,

Do vento...

A nos sussurrar as histórias e as estórias

Para quem sabe sentir

As esporas da vida a lhes fincarem

A alma

E sangrar, a latejar e a gotejar como chuva

Rubra mistura de dor, ódio e solidão.

Para quem sabe que o cais é prisão

E o oceano uma falsa liberdade

Para quem sabe que precise de você

Na exata medida em que do que sinto

Como uma navalha fina, silenciosa e contundente

A escavar na pele um orifício de rancor e morte

Quantas mortes ainda terei que querer

Para entender o sentido da vida...

Matam-se sentimentos

Mata-se auto-estima

Mata-se paz

Afogada num mar de espinho...

Quantas mortes serão necessárias para provar

A inutilidade da guerra

Quantas mortes serão contabilizadas.

Na estatística fria dos homens...

O homem tem se desumanizado

Pouco a pouco, não atinge a perfeição.

da máquina e nem tem o poder de um deus...

Minhas tintas colorem aquilo que é indizível

Que é invisível aos que apenas vêem,

Sem enxergar...

Sem se embriagar da essência de tudo,

Sem se sentir pequeno e absurdo.

Pessoa já vociferava: - São todos príncipes !

Arre! Estou farta de príncipes, de sapos, de lendas.

Quero estórias vivas, a emoção violenta.

A trajetória torta numa curva perigosa

Perigo mesmo é toda essa alienação reinante,

É toda a surdez desumanizante,

É todo esse sangue derramado a se encontrar com lágrimas

Sem tingir de cor de rosa as páginas de nossa memória.

Para quê afinal?

Gisele Leite

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/03/2007
Reeditado em 22/03/2007
Código do texto: T421472
Classificação de conteúdo: seguro
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