Alma Cinzenta
Estou cinzenta, hoje!
As estrelas fugiram do meu céu.
E foram adornar os sonhos de não sei quem.
Alguém que quis roubar-me a lua,
E me deixou num breu absoluto.
Estou à toa demais na vida.
Sem nada que me ocupe o dia, as horas.
Nunca pensei que a ociosidade
Fosse tão amiga da loucura!
Estou sem compreender tantas coisas.
Mesmo encontrando, vez ou outra,
O trevo de quatro folhas
Num jardim velho, ou coisa assim.
Estou à procura dos brilhos no olhar.
E na alma, também.
Todavia, confesso:
Isso não anda sendo nada fácil!
Estou à espera sua.
Sentada na cadeira de balanço,
Ao findar do dia.
As saudades doem demais
Para esperar tanto.
Estou com desejo de pôr as pernas para cima
E ouvir aquela música boa.
Música de se embalar os pensamentos
E deixar fluir o bem por dentro.
Hoje o céu está ensaboado.
Assim como eu.
O horizonte está empoeirado.
Tal qual minha carcaça.
Posso sentir-me cansada
E pegar no sono, às seis da tarde.
Para acordar à uma da madrugada
E não dormir mais.
Posso morrer recostada no sofá.
Posso me levantar às três
E querer mandar o despertador na parede.
Oscilo meus tons de cor.
Como medidor pluviométrico.
Ora chuva vem e traz o verde.
Ora o sol forte avermelha o chão
De tanta poeira solta.
O frio entra bravo,
Não querendo conversa.
Seu assovio apenas emite
Sua falta de educação.
Igual a mim.
Em alguns momentos.
Não me considero mal educada.
Julgo-me até besta demais.
E confesso que duvido
Ser isso algo bom.
Duvido muito que seja eu
Ser de coração mole e bom
Ou besta nas mãos dos outros.
Uma dúvida que me corrói
Em noites de solidão depressiva.
Oscilo na depressão e na euforia.
Coisa doida a me desconsertar o juízo!
Não sei ao certo o que é.
Só sei que me confunde.
Há dias em que sou sol, ser irradiante.
Noutros, tudo o que quero
É ficar debaixo das cobertas,
Sem ninguém para perturbar.
Agora o céu já azula no horizonte.
E eu também.
Para sabe Deus quando acinzentar-me, novamente.
Igual “galo do tempo”
Que muda de cor
Ao pequenino ar que lhe toca diferente...