A eterna busca do Longo Bacamarte

A ETERNA BUSCA DO LONGO BACAMARTE

Miguel Carqueija


O vazio do mundo percorro eternamente
nesta sina cruel que me entorpece e enlaça,
pela qual reneguei família, terra e raça,
e fixei num só pensamento a minha mente.

Ó fados! Por que será dado ao Homem amar tanto
se fantasma sempre há de ser o ser amado,
fugidio ante o seu espírito fanado,
eis que nada ficou senão tristeza e pranto.

Onde estás, ingrata, que não sentes
da minha ausência uma dor pungente,
de mim que tudo abandonei somente
por percorrer o mar, os continentes,

em busca de um sinal que mostre onde estás.
Advogado eu fui, pirata me tornei;
agora um renegado, outrora homem da lei.
Ó Longo Bacamarte! Até onde tu irás?

Se um dia os amigos, que junto a mim percorrem
os infinitos caminhos do tenebroso mar
partirem por enfado, p’ra outra vida buscar,
se nada mais restar, enquanto os anos correm,

as lendas falarão um dia, enfim, quem sabe,
d’um fantasma vivo, um homem solitário
com sua cacatua, seguindo o seu calvário
e aguardando a morte, qual seja a que lhe cabe.

Ó Moicana fiel! Se chega o triste fim,
libero-te ao tombar inerme e moribundo,
deixa o navio! Adeus! Voa pelo mundo,
para os teus irmãos, vai livre, e esquece de mim!



NOTA: está em construção o livro "As aventuras do Longo Bacamarte", personagem que aparece pela primeira vez na história "Encontro na névoa", já publicada no Recanto.