Inadequação

Está tarde,

os ponteiros parados na meia-noite,

há um silêncio distante na avenida,

os carros estão dormindo,

não há caminhantes na estrada,

os semáforos piscam sem transeuntes,

há postes refletindo luzes sem vida,

as estrelas estão tão longe,

o céu coberto por arranhacéus,

sou tão pequeno nesse chão de concreto...

Está escuro,

minha bússola quebrou na última viagem,

tateio pelos muros em busca de uma direção,

há uma inquietação flamejante em meu estômago,

uma dor que não cede aos antiácidos,

as lágrimas misturam-se às gotas da chuva que cai,

há poças que refletem meu perfil distorcido,

não há portas abertas à essa hora da noite,

o frio congela meus pés e meu espírito,

estou fugindo dentro de minha alma para lugar algum...

Um outro dia,

não sinto sono na insônia que me assola todo o tempo,

não há barulhos no caos dentro de mim,

respiro o orvalho de um paraíso perdido,

um sonho que esvaiu-se na correnteza do córrego ao lado,

minhas mãos estão calejadas de tanto esmurrarem paredes,

as luzes dos prédios ainda estão apagadas,

sei que há pessoas felizes com muito pouco,

enquanto me afogo no lamento de minha inadequação,

não há lugar para mim, sou incompleto e sem encaixe no mundo...