Solidão

Estou só no mundo

Estou só na América

Estou só no quarto

Pela rua um gato preto passa

Na esquina uma moça morre

No cruzamento quatro carros batem

Meu corpo continua imóvel

Enquanto sangue espesso

Sai pelas narinas

Sai pelos ouvidos

Sai por minha boca

Céus!

Quanto sangue!

E eu sinto frio

E a morte

Num ato

Impensável

Cobre-me

Com seu

Manto negro

Enquanto sua foice

Cintila na entrada

De casa.

Não consigo adormecer

E a morte me fala

Que seu único momento

De piedade na vida já passou

E que ela está atrasada

Terá que matar uns mil a mais

Pra não ficar no prejuízo.

E na torre mais alta

Da fortaleza da solidão

Eu reviro velhas foto fotografias

(As eternas guardiãs do tempo que passou)

Meu pai ao lado de minha mãe

O sorriso puro de minha irmã mais nova

O olhar profundo de minha irmã mais velha

E a inocência intacta de meu irmãozinho

Onde estão estas coisas agora?

Onde estão os risos

As mesas fartas do almoço de domingo

Aquele cheiro de comida e de carinho?

Perderam-se nas curvas do caminho

Perderam-se entre as lágrimas torpes

Perderam-se nas noites mais extensas

Perderam-se...

E não sabem o caminho de regresso.

O solo rachado

As plantas secas

O cachorrinho de estimação morto

Nem os pássaros que antes

Cantavam em nos jambeiros existem

Tudo é pó

Tudo está cheio de pó!

E a vida segue

E a vida continua

E a vida acaba!

Nem pai

Nem mãe

Nem irmãs

Nem Deus...

Só o diabo

Faz-me companhia...

Weverthon Siqueira
Enviado por Weverthon Siqueira em 31/01/2014
Código do texto: T4671804
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