Vinho verde

Alados múltiplos, todos os tipos,

Albergam-se nos beirais da casa;

Mas, minh’alma que ontem fez lipo,

Ainda pesa demais para suas asas...

No ramo pretérito onde fez ninho,

Mesmo despejada acampa ainda;

Sequer sentiu o aroma do vinho,

tilinta imaginária a taça mais linda...

só há uma água a essa singular sede,

melhor, um vinho, para ser franco;

os portugueses chamam, vinho verde,

nosso erro consagrado chama de branco...

o vento segue soprando cinzas lá e cá,

e não jaz sob elas uma ínfima brasa;

urge, pois, que eu reaprenda a voar,

ou, por inúteis, que se ampute as asas...