Solidão

Não há cadeira cativa em torno de mim,

Só meu próprio vulto e minha sombra...

Ah, isso quando os consigo perceber!

Há um vazio sem forma,

Um vácuo impreenchível

Um deserto incolor...

Sei que sou essência,

Pois, toco-me, apalpo-me, penso...

Sinto-me gritar em meu íntimo

Às vezes choro um choro sem olfato,

Mas as lágrimas teimam em ficar oclusas,

Distantes dos meus olhos,

Apenas queimando minhas pálpebras

E inundando meu âmago de melancolia...

Minhas palavras se perdem

Num espaço sem teto

E a natureza absorve meu éter...

Meu raciocínio é um torvelinho

Insensível, por vezes dócil,

Contudo infinitamente inofensivo...

As paredes não me escutam

E o eco de minha voz é imperceptível...

O travesseiro não dialoga comigo,

O mundo de mim vive afastado, longe,

E não há comunicação entre nós...

Caminho alhures pelas estradas

À cata de um pássaro

Que, com sua melodia, possa

Finalmente sentir que estou vivo,

Todavia nem isso tenho...

Estou ilhado, as águas são turvas

E talvez já não consiga nadar...

Nadar? Até onde? Para quê?

Há uma ausência de tudo

Em derredor de mim...

O amor perambula distante,

Saudade não sei o que é...

O que é mesmo saudade?

Adiante esbravejar? Correr?

Não!

Alimento-me do meu

Próprio instinto e estou magro,

Com uma sede sem nome,

No entanto louco para que me toquem,

Para que me vejam, para que me sintam,

Afinal meu coração pulsa

E precisa desvendar o sinal

A fim de que não enlouqueça

Dentro deste labirinto em que me encontro

E que se chama solidão!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 17/02/2014
Código do texto: T4695207
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