Noturno

Lá fora, anônimas criaturas,

nas esquinas, nos bares, nas tavernas,

vagando entre as escuras trevas,

para, de uma pseudo-alegria,

sorver o último instante.

Aqui dentro, o notório poeta

de versos desconhecidos,

com sua pena estérea na mão,

a substanciar em liras eternas

a imagem tétrica

de ébrios viandantes.

Em ambos os lugares,

nada mais que corações vazios,

gravemente feridos

pelo veneno atordoante e ferino

de uma implacável solidão.