SOBREVIDA


Nas estradas escusas do tempo
desfolhei pétalas de sonhos,
ceifei raízes de tenras ilusões
no outono dos momentos.

Sangrei alma em desgosto
fechei o corpo em silêncio,
decifrei o abstrato dos sentimentos
cobri de máscara impenetrável o rosto.

Calei a voz da sensibilidade
queimei imagens de falsos amores,
vesti-me de puro concreto,
matéria vestida de realidade.

Não mais aguardo estações floridas
nem vagueio o olhar pelo horizonte,
retina reflete sem nenhum brilho,
essência distante decaída.

Rasguei os livros de poesia,
neles cantava todo meu amor...
Ensurdeci os ecos dos passos,
não sei mais quem chegava ou partia.

Abortei toda pureza da esperança,
acobertei-me num manto de sobrevida...
Enlouqueceram na solidão minhas metades,
já não reconhecia qual chorava ou ria...

21/02/2007

Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 24/06/2007
Reeditado em 01/11/2009
Código do texto: T539451