Poema da fronteira
Isso foi há tanto tempo, há tanto tempo.
Acho que já não consigo mais lembrar do tom da sua voz.
Ecoa em minha mente apenas um zumbido grave.
E cada vez menos nítido.
Eu vejo suas fotos repletas de sorrisos largos,
de olhos que brilham
e de brincadeiras tontas, daquelas que só se faz quando se gosta.
Daquelas que só se faz quando se ama.
Isso não é a minha verdade, nunca foi.
Há tempos digo isso a mim mesmo.
Dia após dia, semana após semana, mês após mês.
Nada.
Eu volto ao ponto de partida, tardo um tempo mais ao lugar de chegada.
Eu não vou, eu não voo.
Mas pra onde? Pra lá?
Lá não há mais lugar, não é meu lugar, talvez nunca tenha sido meu lugar.
Isso foi há tanto tempo, há tanto tempo.
Acho que já não consigo mais lembrar do seu gargalhar.
Mas ele gargalhava pouco, ria pouco, dizia pouco.
E sentia muito.
Eu também sinto muito, e você sabe disso.
Sinto muito a tua falta, sinto muito ter partido,
Sinto muito que tenha me deixado ir
Sinto muito por nós.
Sinto muito pelo que não fomos.
Sinto muito pelo que podíamos ter sido.
Sinto muito por mim, ah como eu sinto!
Sinto por esses versos baratos!
Sinto por sempre ser assim!
Sinto pelo meu egoísmo vil!
Sinto por não deixar-te ir...
Mas se quiser ir, vá.
Eu te entendo, carinho, entendo que precisa ir.
Entendo que não se pode estar ao lado
de alguém que está tão longe
É que foi tão bom, tão mágico, tão intenso.
E tão veloz.
Já não consigo mais ouvir o tom da tua voz.
...
..
.
Me vem um sussurro que diz, baixinho:
Talvez nunca haja existido um nós.