Cárcere de dias infinitos

Mais uma manhã sem respostas,

mais um dia acordando no mesmo pesadelo,

caindo de 13 andares até um chão de concreto,

asas cortadas rentes à coluna para facilitar o estrago,

não há nada a ser feito, pulsos amarrados,

olhos abertos vendo o fim se aproximar,

o grito mudo preso no fundo da garganta,

e o dia se faz presente nas frestas da persiana,

rolo na cama solitário em busca de um sentido,

o quarto gira sem um ponto fixo para me orientar,

estou num labirinto de insanidade e dor profunda,

nenhum amanhã me faz esquecer o passado,

nenhum futuro me consola desse eterno presente,

escrevi minha história em uma lápide de mármore,

"aqui jaz aquele que algum dia quis ser alguém",

caminhando em círculos concêntricos como um tolo,

não encontrei as pistas que procurava,

e muitas vezes refiz as perguntas e os personagens,

usei novas máscaras para enganar meu reflexo,

vi em minha alma a solidão de um espírito cansado,

tantas lutas sem um fim ou um propósito claro,

quebrado por dentro e por fora seguindo um destino,

mesmo quendo me sussurravam: "acorde, acorde, acorde",

já estava desperto em meu cárcere de dias infinitos,

não há perdão para anjos caídos,

fomos forjados no erro de outrém,

pagamos as dívidas de escolhas ruins,

sem inferno ou paraíso para nos abrigar,

vagamos como almas itinerantes,

aprisionadas num contínuo numa estação de trem,

como suicidas de vidas nunca nos ofertadas,

ladrões que somos das expectativas dos outros,

espiando pelos buracos os sonhos alheios,

tentando sorver a esperança que não nos pertence,

mesmo quando me sussurravam: "corra, corra, corra",

já estava correndo para bem longe de meus medos,

não há escapatória para desertores,

somos o resto de um caos sem ordem,

os pontos soltos de um universo desfeito,

delirando em uma agonia invisível,

sem qualquer um que se importe conosco,

sem qualquer palavra de afago,

sem qualquer chance de transformação,

tudo o que é sombrio nos integra,

dias cinza, tempestades escuras, noites frias,

ficamos pelas viélas e esquinas de mundos esquecidos,

somos uma depressão que nunca se cura...