Emprego os pés a deslumbrar até os portões
os meus limiares e imaginada desesperanças
a castigar as eiras sem beiras de meus erros
num enfado já arrastado de coleira encilhada
como animal usado, servil serventa, e calada
Sinto o ar covarde de lá fora, a simetria vasta
o infinito que me fez perder sentir ser valentia
querer um abismo horizontal extremo exterior
sentir que acerto as contas no falir em éteres
santificada no mal que incomoda meu desvio
Tento ir, mas o além deste alpendre só seduz
e me afasto revestida a saia branca e coração
um corpo já regido pela proteção enferrujada
a seguir os rigores de meus pecados ser feliz
assim como a querer ir sem se despedir algoz
Comovida eu fico no esperar príncipe conluio
que possa conjurar meu sortilégio o sucumbir
entre o temor de seguir além e temer o limbo
a caravana que vi me entusiama ou vou partir
seguindo os valetes sem risos, e feitos ilusão
Distante vejo o horizonte negro, alvorada una
as nuvens a cortar o celeste véu enegrecente
no alegre bailar de eternidades no crepúsculo
e eu a sós nesta valente indecisão de desistir
mas quero ir a frente, andar a esmo e ventos
Páro um instante o passo, não voltarei jamais
e reflito que apagarei o meu ser nos abismos
na escura noite além dos ocasos que partem
serenata de vida num debruado compassado
nas ruas sórdidas, avenidas vãs, esvaziadas!
Serei sozinha, sonho e dourada, quase inútil
como alquimia de corpo se desfez desvelado
ôca de sentidos, amante nula, caída infinitiva
como substantivo sem repor augusto adjetivo
a temeridade de sair afora, mais além sofrida
O mundo exterior me chama, ímpia andarilha
clama por sortilégios de minha vida comovida
num empuxo de querer levar-me inesquecida
como desejando que meu fim inicie depurada
esta a ser deletada que me cega compadecer
Se eu for até este umbral não terei mais volta
no aquém de minhas forças tristes decoradas
qual mirante em alquebrar a nau escombrada
no destino de ser a trevas sem limitar gemido
o meu eu derrotado ao soçobrar sem espírito!
O portão é qualquer um, portaria e calabouço
como a esperar que meus passos se faleçam
decaído que está ao meu sentimento inumano
temer a perdição além o escuro vestir noturno
tendo perdida a causa que me levará distante!