MORADA DA SOLIDÃO

Estava escrito

Desde séculos

Que te amaria

Sem sucesso...

Estava nítido

Que terias me partido

Em tantos cacos

Sem dó no peito

Coração

Estilhaços

Pelo chão...

Estava a postos

Olhos e dedos

Lábios e corpos

Tendência suicida

És, portanto,

Homicida

Desse meu desejo infrator.

Tanto falo daquilo que nem conheço bem

Estás além

Estou também

Pois não confessas

E não me esqueço

De que uma só palavra constrói

(ou destrói)

Nosso convívio de silêncio.

Vais embora

Enquanto me instigo de delitos

Sem deleite

Sem firulas

Sem enfeites

Vais no vagão da saudade

E nem me olhas

E nem te alcanço

Enquanto o tempo construtor do acaso

Subtrai certezas

Multiplica dúvidas

Afinal,

Estava escrito com as mãos

Que amar-te seria contrito

Que amar-te seria um equívoco

Que amar-te me faria morada da solidão.

Virgínia Moreno
Enviado por Virgínia Moreno em 06/12/2016
Código do texto: T5845767
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