MORADA DA SOLIDÃO
Estava escrito
Desde séculos
Que te amaria
Sem sucesso...
Estava nítido
Que terias me partido
Em tantos cacos
Sem dó no peito
Coração
Estilhaços
Pelo chão...
Estava a postos
Olhos e dedos
Lábios e corpos
Tendência suicida
És, portanto,
Homicida
Desse meu desejo infrator.
Tanto falo daquilo que nem conheço bem
Estás além
Estou também
Pois não confessas
E não me esqueço
De que uma só palavra constrói
(ou destrói)
Nosso convívio de silêncio.
Vais embora
Enquanto me instigo de delitos
Sem deleite
Sem firulas
Sem enfeites
Vais no vagão da saudade
E nem me olhas
E nem te alcanço
Enquanto o tempo construtor do acaso
Subtrai certezas
Multiplica dúvidas
Afinal,
Estava escrito com as mãos
Que amar-te seria contrito
Que amar-te seria um equívoco
Que amar-te me faria morada da solidão.