A Rainha do Gelo
Frias são as lembranças que se tornam pálidas e distantes
Frios são os sentimentos que tornam-se dispensáveis e efêmeros
Frio é a carência de vontade ou de coragem para atravessar seja qual for a tempestade.
Frio é quando morre o amor, para dar lugar a dor.
Frio é a ausência do calor, em toda sua amplitude
Frio é o lugar onde ela se encontrou após tudo perder o sentido.
E esfriou tão de repente, demasiadamente,
A tormenta a devastou, por todo canto que passou
Esfriou por inteiro, sem contestar, antes de perceber ou aceitar
Se deixou esfriar, e agora tudo o que toca vira pedra frágil de despedaçar.
Congelou seus sentimentos ingênuos, sua alegria, o amor que em seu peito ardia
Congelou as lembranças, o bem querer, a esperança, a graça de viver e esperar
O medo a esfriou de tal modo que não mais ousou, por sua coragem, buscar
Decepcionou-se ao ponto de não confiar mais em si e em ninguém
Partiu-se em tantos pedaços, que não procura mais se encaixar
Secou todo seu manancial de perseverança, empatia e auto piedade
Solidificou-se na solidão de seus pensamentos e sonhos irrealizáveis
Quis pertencer, mas isolou-se ao ponto de transparecer
Não quis morrer queimada para não virar cinzas, mas congelou e virou pedra fria
Nunca imaginou, de vera, que o frio traria mais destruição que o fogo
Seu inferno agora era montanha de neve branca e glacial
Estaria, assim, condenada a viver eternamente neste inverno
Enclausurada em sua imortalidade, naquele frígido castelo.
Sem luz, nem cor, som ou ardor
Sem paz, sem vida, sem chão e sem saída
Sem mais...
Fria.