Desalento

Para onde irá minha razão,

presa ao vão de uma porta,

buscando o estreito caminho,

perpassando os parafusos da existência,

desejando que não lhe perfurem a alma,

quando as palavras perdem-se no caminho,

e os sentimentos viram ao avesso,

só resta no silêncio da noite,

a saudade de uma vida não vista,

a paisagem de uma janela trancada,

o sussurro em ouvidos surdos,

a melancolia de uma voz muda...

Para onde irá meu coração,

esquecido no outono de um banco de praça,

tentando manter suas batidas para além da tristeza,

coligindo memórias para na saudade sobreviver,

esperando um porvir de melhores emoções,

quando os olhares se perdem em ilusões,

e o espírito contrai-se no âmago,

só resta no frio da madrugada,

a ausência que se faz presente,

a melodia de um violino desafinado,

as estrelas de um céu nublado,

o desalento de uma solidão infinita...