Solar da solidão

Todos os meus sentimentos estão acomodados nos versos que faço.

Não meço esforços e dou a eles um lar

de acordo com as suas vitórias e os seus fracassos.

Ao meu amor, foi dado uma cabana num lugar distante,

e de difícil acesso.

O prazer, coitado, foi despachado na última diligência

por falta de espaço.

Felicidade mora em um mausoléu, não a vejo há tanto,

que minha saudade, essa ingrata,

exigiu-me bem, de frente à praça, um arranha-céu,

e toda imponente, intimida os que passam de bengala e chapéu.

O desejo, vadio faminto, dorme ao relento,

e para não morrer de fome, come pão bolorento,

veste-se de terno e gravata, excomunga e roga praga

aos elementos do tempo.

E eu, em mais uma empreitada, copio do pedreiro sua nova morada.

Enquanto ele amassa o barro, eu dou alma às palavras.

De voo em voo a casa vai surgindo.

O mais novo lar do João.

De verso em verso eu construo um solar pra minha solidão.

Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 28/03/2017
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