Num descaso farto desmontei jardins desmerecidos
            chorei em vão com face calada nas lágrimas turvas
            e cai ruínas no amôr jamais pretendido, nunca visto

            Sombrio que entorna o passional distraído embuste
            caio emprantos sem rezas por desconhecer divinos
            a nenhum deus insolente que se omite deste mundo

            Desarmei  armas duras que de brancas forjam rosas
            matando em mim esperanças em estimas escravizar
            ao ser que serei pervertida na vida incolor sem flôres  

            Nas horas falidas dos minutos cegos estarei perdida 
            ali nas falésias de uma praia insana inerte de marés
            ou sofrida caminhante diante dos tropeços amargos

            De incertas cinzas decoradas com ardor, este temor
            o ser a menos querida  em meu vil reino desterrado
            uma dama de jarros partidos que ousaram ajardinar

            Só a padecer de falências já perdidas na eternidade
            amando o vazio que se encosta soçobrado delirante
            a fenecer cantigas tecidas pelos anos sem paixões...

            Quisera tão feliz por tentar a cada dia levar o tempo
            num embuste de perder-se no achar cansadas juras
            solitária filha de mãe eterna penitência e desmedida

            Cair no sono como a encenar a aurora sem demora
            um marejar não poético na realidade da donzela vã
            este meu mundinho tardio da coragem encarcerada

            De tanto ousadia de querer-se mas impedida lúcida
            um como a desejar elevar as mãos surradas de dôr
            o suor da face travestida de rugas, vozes ou perdas

            E beija-me a esperança vesga dum calejar destinos 
            mas em loucuras que me prende umas eternidades 
            ao mirar o acerto de um beijo ainda que mais tardio

            Vou embora de algures, do reinar confeitos, rainha!
            Ainda que calejada de desamores a farsa que urde!
            O ano que se esvai a cada manhã e serei memória! 
           
Jurubiara Zeloso Amado
Enviado por Jurubiara Zeloso Amado em 28/04/2017
Reeditado em 28/04/2017
Código do texto: T5983985
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