Entregar-me-ei

Leve-me para além das nuvens do céu,

Quero sentir o ar despertando meus pulmões,

A vida satisfazendo-se em mim.

Azul como você pode imaginar,

Respirando próximo dos meus lábios frios.

Talvez meu único momento de verdade seja minha morte.

Eu sou guardião de um segredo que nem eu mesmo consigo contar,

E quando cada gota de sangue coagular no meu corpo,

Então, o segredo dormirá comigo,

De um jeito doce e estranho.

Mas, agora, sem medo de se entregar.

Entregar-me-ei não só à terra gélida dos dias de inverno,

Mas ficará algo não dito, entre a terra e meu corpo.

Talvez meu espírito encontre a verdade nas nuvens,

Ou apenas descanse solitariamente, como tem sido todos esses anos.

É um mistério que só três ou quatro pensarão a respeito,

Mas, de fato, será apagado pela linha do tempo.

Deito meu corpo, hoje, como se soubesse que é uma das últimas vezes.

O silêncio em que me encontro é assustador demais para pensar.

Vários dias preso numa redoma de silêncio,

Mas ainda prefiro me esconder nesse subsolo,

Porque falta algo em mim para ver o mundo,

Ou talvez eu o veja de um jeito contorcido.

Não há resposta. Em alguma manhã meu corpo não despertará

E o mundo será o mesmo que sempre foi,

E nem mesmo essas páginas existirão.

Kescy Jhony
Enviado por Kescy Jhony em 29/06/2017
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