Fora de uma vida

Tempestades que não param,

estações em fúria no globo terrestre,

poesias escritas em espelhos quebrados,

promessas lançadas ao vento,

fora de uma vida de enganos,

tristes passos olhados para trás,

assoviando canções de saudade,

desejando melhoras de doces corações,

em súplicas de preces esquecidas,

em igrejas de cidades interioranas,

fora de uma vida de mil palavras,

dedilhando um violão na curva do destino,

caçando palavras em postos de gasolina,

para refletir sobre o porvir,

gastando semanas inteiras,

desenhando percursos indistintos,

aprendendo italiano para uma viagem,

olhando imagens distorcidas no reflexo,

cantando para as dores sumirem,

esperando o sol se pôr sobre o mar,

observando pessoas tão fúteis,

vidas de consumismo e futilidade,

tão prisioneiras quanto eu,

fora de uma vida que não escolhi,

e se tiver que apostar num jogo de azar,

quem sabe encontre a minha sorte,

sem problemas de arrependimentos póstumos,

porque já estou fora de uma vida,

fora de uma vida sem retorno,

fora de uma vida sem sorrisos,

fora de uma vida...