Sinto.

Sinto a todo o tempo

No soprar dos ventos

E no correr das marés

A dor que brota-me aos prantos.

E a ilusão esquecida

Dum amor que foi embora.

Dum anjo que veio a mim

E que num rito não se demora.

E hoje, o dia todo

Eu ouvi chorar-me a dor.

Era o gemer das matas

Num estonteante torpor.

E de passagem eu via

Na conjunção da alma

Misturar-se a aflição

Essa que me desarma.

Num desatinar fogor

Dum mundo meu esquecido

Mil desejos do meu amor

Num luar enegrecido.

E eu ouvia cantar

O poeta aos ventos vãos

Que se lhe ocorresse o amor

Seria por perda da razão.

E esse para si teria

O maior dos vistos amores.

Mas diria não se abastar

Para estancar-lhe antigas dores.

Enfim todo o dia de hoje

O eco triste chorou.

Eram cartas duma chama

Que um dia em mim morou.

Mas hoje a chama se apaga

E não se há mais tal louvor.

Abafam-se os gritos e se acalma

O verso do poeta sonhador.

_Carolina L. Oliveira.