o mar e o rio

metade dessa lágrima

é o mar

metade dessa lágrima

é o rio

De um lado a água salgada e fria

De outro lado a água doce e morna

Jogo a âncora pesada

nas profundezas do mar

Jogo a alma densa

nas profundezas do corpo

a âncora me amarra em meio o infinito

a alma me prende a um espaço restrito

falta-me ar,

abro a boca e busco oxigênio

transborda de meus poros a palavra,

o gesto,

o grito que não se cala diante da multidão

o medo que não cessa em pesadelo

falta-me o ar

meus olhos saltam do rosto

e, em outras órbitas

buscam a elipse perfeita

o retorno da visão e da lucidez

mas essa lágrima embaça tudo

fica tudo fora de foco

e a surda agora é quase cega

trôpega pelo próprio caminho

estranhando as próprias pernas

ainda que entendesse a força centrípeta

da curva fechada

da reta enigmática

que nos coloca nus perante a verdade

axioma fatal

axioma final

de turvelíneos

metade dessa lágrima é dor

metade dessa lágrima é anestesia

dor humana e vivida

anestesia de quem sente tanta dor

que entorpece

perde os sentidos

perde as âncoras

perde no cristalino dos olhos

a nitidez

a imagem é o prazer do eu

a visão é o prazer do outro

o mar e o rio se encontram

a foz revela a dor de se fundir.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/08/2007
Código do texto: T619303
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