SOLÍCITO
Tilintando pingos de chuva, no telhado.
Do meu lado, morga o silêncio,
vencido, temporariamente, pela tormenta.
Absorto, em pensamentos tantos,
quase num prévio açoite,
em um relógio esportivo, de parede,
vejo os ponteiros acusarem meia-noite.
A luz ainda acesa, e eu,
abandonado pelo sono,
me nego a pensar em você,
cuja insensatez me levou a isso.
O coração cutuca o cérebro,
como a exigir, nele, a sua presença.
Apenas, uma insistência intensa
de um órgão que um dia resolveu te amar,
com uma infantilidade tal,
capaz de, em desalentos seus,
não acreditar em seu possível adeus.
Faço um esforço hercúleo
para não te incluir nesse momento,
pois, afinal, não quero fazer presente
o que, há muito, se tornou passado.
E, sendo assim, não pode ser amado.
A chuva, aos poucos, diminui,
e, agora, o que realmente flui,
é o possível reinar do silêncio.
Houve um tempo, que em situação igual,
pediria aos céus para sonhar contigo.
Hoje, quero, apenas, e, tão somente,
não me abdicar do meu zelo.
Pois, sonhar contigo,
seria, sim, o meu maior pesadelo.