no limbo
do desvelado inferno sob nossos pés,
nós ouvimos os rigorosos clamores.
são os gritos lancinantes dos pecadores:
as vítimas tenras do castigo revés.
do escarpado céu, outrora almejado,
não nos resta nenhum desatino,
a não ser a utopia de querer findado,
o fel de nosso próprio escrutínio.
aqui nada há que se contemplar,
pois a melancolia cede borda ao lugar.
aqui nada há que se condescender,
pois, a malícia, coube ao fosso, esvanecer.
daqui, indignos de salvação, observamos,
os santos se escarnecerem dos fiéis.
daqui, inaptos à condenação, vislumbramos,
tais fiéis hospedarem-se em bordéis.
lançados a esmo, nunca ponderamos
as verdades por que um dia lutamos.
somos blindados do eterno engano,
vagueando do sagrado ao profano.
contudo, tal sina não nos causa espanto:
o vazio sempre fora companhia do encanto,
pois, não há morte capaz de dissipar
a tristeza que não pudemos suportar.