no limbo

do desvelado inferno sob nossos pés,

nós ouvimos os rigorosos clamores.

são os gritos lancinantes dos pecadores:

as vítimas tenras do castigo revés.

do escarpado céu, outrora almejado,

não nos resta nenhum desatino,

a não ser a utopia de querer findado,

o fel de nosso próprio escrutínio.

aqui nada há que se contemplar,

pois a melancolia cede borda ao lugar.

aqui nada há que se condescender,

pois, a malícia, coube ao fosso, esvanecer.

daqui, indignos de salvação, observamos,

os santos se escarnecerem dos fiéis.

daqui, inaptos à condenação, vislumbramos,

tais fiéis hospedarem-se em bordéis.

lançados a esmo, nunca ponderamos

as verdades por que um dia lutamos.

somos blindados do eterno engano,

vagueando do sagrado ao profano.

contudo, tal sina não nos causa espanto:

o vazio sempre fora companhia do encanto,

pois, não há morte capaz de dissipar

a tristeza que não pudemos suportar.

Rodrigo Leme de Oliveira
Enviado por Rodrigo Leme de Oliveira em 14/11/2018
Reeditado em 16/11/2018
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