Sossego

Sossego,
pede minha alma.
bem baixinho,
mas com precisão
e determinação,
como se assoprasse
ao vento as palavras
para que o universo
remonte e desmonte
até encontrar o ritmo.
Parece que o céu
se fez um amontoado
de nuvens sisudas,
emboladas no ócio,
chovendo por obrigação,
estendendo agosto
até emendar com outubro.
a sobrevir dias desbotados
como prédios consumidos
em todo o seu exterior
aos efeitos do tempo
e em seus corredores antigos
se encalacrarem histórias
pequenos rastros de cores
de existências distintas
que um dia se amaram
talvez em silêncio,
talvez naquilo que foi talvez,
em cada rachadura
um coração que jamais
tornou a ser o mesmo
depois daquele adeus
que primeiro foi tchau
até o tchau ser um sussurro
de quem não reuniu coragem
para dizer adeus
porque dizer adeus soava,
vamos combinar,
um tanto quanto melancólico,
o adeus é o chão que se desfaz
enquanto o tchau é a certeza
de que haja um talvez,
enquanto o adeus
furta toda e qualquer especulação,
se disfarçando no tchau,
no choro sem lágrimas,
que pesa no peito
porque as horas passam
e, ah, já é tarde...
então se vão dias de chuva,
dias que cantam tristeza
sem partitura nem compasso,
dias que são apenas o que são,
dias que se acumulam em semanas
até outro ano se acabar
e esses dias se somam em meses
e a vida se obriga a seguir,
destinos distintos
que não estão mais traçados
alguns sorrisos falsos
até parecem armadilhas,
todavia a sensação não se repete
estar em casa sem ter um lar
um coração ser o seu lar
e seu coração estar ali
e tudo ser então um rascunho,
um sonho efêmero
que durou o bastante
para caber numa lágrima
para ser poesia sem forma,
sem harmonia nem sedução,
ser nada mais que
o confessionário lírico
de quem queria
dominar a arte da poesia
porque se o chão me tirarem
eu quero aprender a voar
e se a memória falhar
que eu não me esqueça jamais
porque deixei a vida me levar,
deixei meu coração por aí,
num corredor qualquer
onde minha história se perdeu
em meio a tantas outras
deixei a vida me levar
porque era melhor
do que não saber para onde ir
e outros cansaços pesaram,
pedirem a conta e se alojaram,
até o pranto amortecer,
até falar disso e não mais doer.
e onde hoje é solidão,
deveria repousar outra alma carente de
sossego.
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 15/11/2018
Reeditado em 08/04/2020
Código do texto: T6503048
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