post-mortem
eu queria morrer de amor:
com o peito inflado,
como se estivesse cheio de ar
mas seria apenas felicidade,
por ter sido minimamente correspondido,
por ter achado uma moeda de ouro
no final de um arco-íris descolorido.
eu queria morrer de amor:
com a boca formigando de desejo
por um beijo que nunca viria,
e se viesse, chegaria num lampejo,
cavalgando um raio, sem rédeas, sem brida,
e deixaria meu lábio bipartido.
eu queria morrer de amor:
buscando, desesperadamente, por fôlego,
e, cada vez mais fundo, no meu mundo,
privado com minhas particularidades,
me afogar em lágrimas cujo o sal
fosse o mais doce de todos os componentes.
eu queria morrer de amor:
de uma faísca, que não sabe que, ao nascer,
posto que é fogo, e que não pode se apagar,
transforma em chamas que ardem, sem se ver,
meu coração que insiste em não queimar.