A Solidão Dorme de Pijama

Queimo poesia seca

para espantar a solidão.

Mas ela sempre se aconchega

me charuta em folha seca

e me pega pela mão.

Agora tudo é deserto

dentro do meu coração.

Caminho, eu a levo

a tiracolo, somos tão íntimos,

eu e a minha solidão.

Na casa da poesia,

eu sempre a saúdo:

Solidão, amiga, seja bem-vinda!

Já estava ficando com saudades.

(Isso eu falo baixinho para ela não

escutar. Vai que queira repouso

e também me jantar).

Mas entre, venha se sentar.

Palavrão Cabeludo vá buscar

serventia e trate de se pentear,

oh! menino teimoso!

E não me vá servir a nossa amiga

com coisa feia.

Ande, vá buscar o bálsamo

com Maria, e não me vá pelo caminho

xingando a poesia.

Nem vá dar delírios a mãos cheias.

Percebeu como já é antigo

nosso convívio?

Tome seu licorzinho,

é aquele seu preferido

depois do jantar.

Não se incomode, fique sentada,

eu acendo seu charuto, assim

podemos nos tragar.

Puxa! Já vai?

É cedo, menina, o Palavrão Cabeludo

ainda nem foi se deitar!

Bom: Compromisso é compromisso.

Mas volte sempre, é sempre um

prazer recebê-la na ponte, no mar,

no pôr-do-sol, no bar, e além do

horizonte.

E assim que ela sai,

o Palavrão Cabeludo se descabela.

Oh! menino genioso!

Já pensou se ela volta?

(Sétimo lugar no Concurso Internacional de Poesia).

Américo Paz
Enviado por Américo Paz em 19/09/2007
Reeditado em 09/12/2007
Código do texto: T659001
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