SOLIDÃO
Mesmo com os olhos abertos
Não sei se estou desperto, ou ainda durmo.
E este maldito ruído?
Estronda e lateja,
Como a trombeta do inferno me acordando
Sou ameba, bicho, lixo ou ser humano?
Preso em algum lugar dentro de mim
Terceira dimensão!?
Relógio parado!?
Alma mutilada,
Corpo congelado,
E um ser escamoso falando em latim.
Sigo esta trilha de urina
Com odor inocente da carne morta
Vejo à frente uma luzinha
Que a cada pegada minha
Materializa-se uma porta
Ao abri-la de súbito,
MergulhO em um vazio gutural
Os gritos de almas perdidas
Acompanharam desde a descida
Até ao desfecho final
- a lama –
Estou cercado por crânios.
É engraçado isto que somos
Ameba, bicho, lixo, seres humanos!
Quero sair deste mundo alternativo
Talvez apareça um corpo vivo
Ou um defunto conhecido
Caminhando em pretos panos.
Que me arrebate do lodo
E me eleve ao infinito
Onde um olho há de observar
Eu e meu novo amigo.
Mas como se num susto
Meus olhos se abrem novamente
A torneira está pingando
Esse ruído maldito
Como a trombeta do inferno;
Sempre me despertando.
Não estou mais dormindo, tampouco delirando.
Só estou no canto do quarto sozinho, sonhando.