SOLIDÃO

Mesmo com os olhos abertos

Não sei se estou desperto, ou ainda durmo.

E este maldito ruído?

Estronda e lateja,

Como a trombeta do inferno me acordando

Sou ameba, bicho, lixo ou ser humano?

Preso em algum lugar dentro de mim

Terceira dimensão!?

Relógio parado!?

Alma mutilada,

Corpo congelado,

E um ser escamoso falando em latim.

Sigo esta trilha de urina

Com odor inocente da carne morta

Vejo à frente uma luzinha

Que a cada pegada minha

Materializa-se uma porta

Ao abri-la de súbito,

MergulhO em um vazio gutural

Os gritos de almas perdidas

Acompanharam desde a descida

Até ao desfecho final

- a lama –

Estou cercado por crânios.

É engraçado isto que somos

Ameba, bicho, lixo, seres humanos!

Quero sair deste mundo alternativo

Talvez apareça um corpo vivo

Ou um defunto conhecido

Caminhando em pretos panos.

Que me arrebate do lodo

E me eleve ao infinito

Onde um olho há de observar

Eu e meu novo amigo.

Mas como se num susto

Meus olhos se abrem novamente

A torneira está pingando

Esse ruído maldito

Como a trombeta do inferno;

Sempre me despertando.

Não estou mais dormindo, tampouco delirando.

Só estou no canto do quarto sozinho, sonhando.

Ricardo Árcoli
Enviado por Ricardo Árcoli em 28/06/2019
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