Cena Aberta

Abriu a porta, o silêncio o recebeu:
Bem vindo! lhe disse a solidão.
Do passado, um abraço apertado,
Um beijo, um sorriso, um afago.
Cenas de um filme que não passa na TV.
Alguém gritou: corta!
Volta a fita, vamos rodar de novo.
Isso não está no roteiro.
Assim ele não escreveu.
Entretanto, o cenário era real.
A dor, que ainda o acompanhava,
Era maior do que a distância.
Ainda vencia o tempo.
Tempo que precisava de tempo,
Para esquecer o que ele não esqueceu.
Quis jogar tudo ao vento.
Mas a saudade é um sentimento de quem ama.
Ele perdeu.
Apostou que seria capaz de dominar seu coração.
Ignorar o sofrimento.
A solidão não compartilha os prazeres da vida:
Sentar-se à mesa.
Dividir resultados.
Depois do primeiro passo, um sorriso no sofá,
Um abraço caloroso veio do corredor.
Outra porta se abriu, fez questão do beijinho,
Uma outra porta aberta surgiu,
Uma manifestante mas exaltada o esperava chegar
Valeu! Gritou uma voz ao fundo.
Cenas de um flash back.
O silêncio toca o som da rua.
Carros chegam em casa,
Passos correm para abraçar,
Burburinhos, gozos intensos,
O sol que brilha na noite ao lado.
Cenas da vida real.
Lágrimas, insultos, incompreensão,
Atos impensados, ânimos alterados,
Arrependimentos, terríveis momentos.
Cenas para amar a solidão.
Basta! Assim reza o texto.
Que rolem os créditos.
A mocinha se foi.
A família não é mais feliz.
Todos queriam ser felizes,
Queriam ser uma família feliz.
Contudo, ela não está mais em cena.
Ele não sabe mais se ainda é o mocinho.
Não sabe se é feliz,
Não sabe se tem família.
Cena final.
Fechou a porta em silêncio,
Secou as lágrimas, ergueu o copo:
Um brinde à solidão.


Este texto faz parte da coletânea Alma Nua de Ivo Crifar, pela editora Baraúna.