O Silêncio das Bocas


Vasto buraco no peito, abismo sem fim,
Mente esvaziada de lembranças,
Memórias já perdidas, ilusões fugazes.
E então a flor murcha e despetalada,
O corpo cansado, o espírito exausto.
E o relógio brigou com o tempo,
Revoltou-se contra horas e minutos.
E a boca boceja palavras exauridas,
E o olhar perde-se num horizonte invisível.
Já vão passos que se isolaram da trilha,
O caminho ficou solitário, e só ficou sozinho.
Pois que de todos os encontros marcados,
Antes se perderam nas geografias dos corações.
E o sentir denunciou o viver,
O que a razão pensava falecido.
E então o sorriso não houve,
O olhar não aconteceu,
E nas máscaras de cotidiano
Riram-se em tragédia e comédia,
Pois já não era mais tempo.
E o tempo, sempre o tempo,
De tão eficiente encontrou-se consigo,
Num exato instante
Em que tudo já era nada.
E já não havia mais sentido ser,
Velado pelo silêncio,
Num epitáfio em forma de poesia
Que quis apenas calar-se,
Pois nada mais havia a dizer.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 24/11/2019
Código do texto: T6802270
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