quem me dera

No amarelado antigo do retrato velho

teu semblante de satisfação impera

Quem me dera, quem me dera...

No teu sorriso franco me jactar da vida

No teu olhar cintilante me espelhar na lida

Me condenando agora ao abandono eterno…

Como se fosse ontem, um passado breve

Que inferno!…

A solidão causada por todo o ócio vago

De ter que viver, mas sem tua presença

Quem me dera, quem me dera…

Continuar existindo sem qualquer sentido

me sentindo fútil, entregue à loucura

de que há outros me esperando vivo!

Que amargura!…

Não ter continuado, não ter prosseguido

Perseguindo a vida, renovando as dores

Quem me dera, quem me dera

Não ter tido tempo, não ter tido amores

Se nenhum supera esse com desvelo…

Como se no fim, tudo se acertara

Que pesadelo!

É um remendo roto, sem cobrir a falha

Ainda sinto tanto a sua ausência infinda

quem me dera, quem me dera...

Ainda meio tonto esperar a marca

Para retirar o véu que a lembrança volta...

Na esperança morta, festejando a vinda…

Que revolta!

Acreditar nessa espera louca

De ver passar a vida, numa esperança parca

Quem me dera, quem me dera…

Alimentar as dores que na alma marca

Como um ferro em brasa que faz a moldura

Da violência farta que maltrata o íntimo…

Que loucura!

Ter a coragem de não mais fitar teu rosto

Neste retrato velho, de um colorido fosco

Quem me dera, quem me dera…

Se dessa história que guardei comigo

É esse o único resquício verdadeiro

Lembrança rara do meu martírio eterno…

Que desespero!

Eder Mag
Enviado por Eder Mag em 13/01/2020
Código do texto: T6841084
Classificação de conteúdo: seguro