A quem devo minha solidão?

Me sinto infinitamente solitário.

E o silêncio que a solidão me traz

- Tal qual esse desprazer mercenário -

Insiste em não me deixar em paz!

Fico sempre quieto, parado e mudo.

Imóvel, estático, como se fosse de mámore.

E mesmo que eu queira. Que eu grite ou chore,

O sentimento permanece, contudo.

À noite, a escuridão me leva à grima.

Porém, não derramo pena ou lágrima,

'Inda que lástimas não me faltem.

E num triste solilóquio, logo me pergunto:

A quem devo minha solidão? — Sentimento profundo. —

Ao amigo que me abandonou?

À amada que nunca me amou?

Ou ela é somente este vazio inato

que nunca me deixou?

A quem devo minha solidão?

A quem cravou essa chaga em meu peito

Fazendo arder meu pobre coração?

Àquela por quem choro em meu leito e

Por quem alimento tamanha ilusão?!

A quem devo minha solidão?

Sentimento que julgo não ser meu,

E que, por Deus, não queria ter.

Essa tristeza, que o coração não conteu

Agora eu consigo dizer:

Devo ela somente a você.

Raul Brasil
Enviado por Raul Brasil em 31/01/2020
Código do texto: T6855060
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