Caderno Amado

Voltei, caderno querido

Chorei, foram tantos vacilos

Queria escrever, em retorno, um romance

Mas, adivinhe, estou em um sofrimento constante

Sentimental, não se alerte, vai sarar

Decepções, apenas isso, o que resta é seguir a diante

Caderno, lembra de quando nos conhecemos?

Consegue se lembrar das primeiras linhas?

Se lembra de como eu era feliz naquele tempo?

Quando te conheci foi um dos melhores dias da minha vida

Agora, anos depois, penso em queimá-lo, como pode ser?

Sinto-me judiado, fraco, não querendo me mover

Caderno, o que aconteceu comigo?

Onde foi parar aquele menino apaixonado, iludido?

Devolva-me aquele sentimento puro e indescritível.

Quantas vezes eu desejei parar, caderno

Quantas vezes eu fiquei à deriva, caderno

Querendo apenas silenciar um vazio interno

Mas, descobri que, mesmo depois de tantos textos,

Nada mudou, nada, apenas o meu terno

O sofrimento permanece imutável, o detesto

Talvez busque respostas nas palavras de um eremita

Talvez o distanciamento acalme lamúrias corrosivas

Quem sabe? Tudo que sei é que voltei, tarde

Perdão pela demora, estava sendo iludido e não vi o tempo passar

Acabei por me atrasar, mas, agora eu estou aqui

Para nós conversarmos, relembrarmos o passado.

Caderno, mal sabes dos meus momentos em castigo

Caderno, mal sabes a solidão que tenho sentido

Não tem ideia do alívio que eu sinto,

Quando, no escuro, escondido, eu grito

Ninguém me escuta, pois sempre ponho a mão na boca

Tentando expulsar a tristeza do meu peito

Tristeza que ninguém tem conseguido abafar

Fique à vontade para me chamar de louco

Eu só não quero mais apanhar em extremo sufoco.

Sei que te abandonei sobre a mesa

Mas, eu estava precisando enlouquecer

E, não queria escrever meus devaneios, solidão em sutileza

Peço que compreenda, não me odeie

O mundo está rodopiando e eu estou regurgitando,

Tristezas e lágrimas sob o lençol, estava chorando.

Estava em um estado suspenso, omisso

Acima de meus medos, mares em depressão

Desculpe pelo meu sumiço, vou te compensar

Culpe a solidão, aos medicamentos que se ausentaram

Talvez eu os devesse tomar, talvez assim a dor passe

Mas, agora estou aqui, caderno, por favor me abrace

Pois, desejo tanto carinho, e carinho foi o que lhe dei

Cada palavra que escrevi em paixão, todas que criei

Dei-me elas, necessito, me sinto em naufrágio, dei-me assim

Prometo me recompor, prometo voltar a compor

Só, me dê tempo, para inventar um novo amor.