retração do sol

Um inesperado silêncio ruim me toca

A palavra que se expandia reclui-se

A verdade que bradava esfuma-se

O que se expunha esconde-se.

O entardecer da poesia alvorada

A retração do sol apenas amanhecido.

Talvez porque

estando sozinho

me pediram que ficasse só.

E aí a solidão me absorveu inteiro

Me apareceu ao quadrado

Devastadora.

A quarentena virou solitária.

O abandono imposto.

Então amuei.

Mas volto a falar.

Porque calar agora seria a aniquilação

O desaparecimento

A desistência impossível.

Essa crise é desruptiva para quem, como eu, ensaia precipícios.

Subi a montanha, estou agarrado ao cume

Não vejo ainda o que há do outro lado.

Não prosseguir seria inevitavelmente cair no repetido fosso da reaniquilição.

A imobilidade provisória não pode ser silêncio.

Desmaterializei-me em verbo, e não me cabe o corpo

Que já não me cabia.

Então desfalar agora seria morrer.

Sufocar cruelmente o ser apenas estabelecente que emerge

Mal delineado, sem contornos, embrionário embora tardio.