E NUNCA SAIBAS O QUE ME OCORREU

O imprevisto é

Ter que correr o risco, bem meu

De quando, ausente a tua forma

De um vaso feito do bom barro,

Eu me quebre em pedaços

E nunca saibas o que me ocorreu;

Ou eu caia numa dessas tocaias

Que, maquiadas, não posso ver eu;

Ou uma neblina vasta, infinda

Me sufoque e eu não suporte toda a mágoa

E nesta me afogue, na água!

E nunca saibas o que me ocorreu;

Ou lancem um dardo de fogo

Que queime meu corpo inerte

E alguém haverá de gritar “morreu!”

E vais lá saber se é aí que morro

Pode ser que até me enterrem

E nunca saibas o que me ocorreu;

Ou eu ande por uma calçada

E descubra a casa de um velho amigo

E ele, gentil, a dar-me abrigo,

Me conte no que se meteu

E, na oportunidade, leve-me à outra cidade

E nunca saibas o que me ocorreu.

O imprevisto.

É ter que correr tanto risco, bem meu

Para ouvir-te dizer, ao fim de tudo,

Que, por tudo, o único culpado fui eu.

Tomara que eu não me frustre com nada

E nunca saibas o que me ocorreu.

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 19/06/2020
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