Cansaço
Bate o cansaço
A vida bate forte
Cadê o conforto do abraço
Que à vida
Poderia dar outro norte.
Está tudo tão distante
A dor à alma rasga
Ferida aberta, lancinante
O peito engasga
E pelos olhos transborda.
O tempo, inexorável,
Exige, para suportar, paciência,
A luta é insana
Sanidade ameaçada pela demência
Busca, inútil, o Nirvana.
Tudo em cacos, pedaços soltos,
Que se colam tortos
Quebra-cabeças cujas peças se repelem
Sonhos em mágoas envoltos
Navios que buscam, inexistentes portos.
Confronto com o interior
Espelho que se estilhaça
Esperança que no incorrespondido amor
Feito areia entre os dedos,
Se esvai, não vem, só passa.
Socorro! A consciência grita
O ego se desestrutura
Desmorona o ser
Cuja mente se agita
E o coração se amargura.
A palavra amiga
Vem na hora certa acalmar
O joelho vai ao chão:
– Suporta, o que te castiga
Porque tudo vai passar.
Disse, vinda do invisível,
A voz que se fez ouvida
E naquele instante sofrível
Vem o sono, leniente
Para aberta ferida.
E na manhã seguinte
Tudo outra vez recomeça
É o ciclo vital do existir
De quem levanta e tropeça
E do qual não dá para fugir.
Cícero – 08-07-20