Realidade

Tenho medo,
este mesmo medo que assola o mundo.
Medo da solidão, do vazio,
do nada com cheiro mórbido.
Sofro das angústias de todos.
Minhas buscas são as suas,
grandes, imensas, nuas.
O eterno caminhar contra as vicissitudes,
encontrando em cada esquina o medo,
o receio dos desacertos.
Dobrar correto a rua certa,
grampear a perfeição ao peito
pelo medo de errar.
Contudo tropeçamos,
engolimos o só, tragamos a solitude
dormindo no abismo vazio
dos desencontros.
Quisera pontilhar as trilhas,
estrelar as noites e sonorizar o espaço,
desviar as angústias e dar fé ao incrédulo.
Quisera fazer um sorriso eterno e firme,
uma palavra para todos.
Todos seriam eu; coerentes com a versão,
no verso sem medo,
onde a paz pudesse brilhar
pelo conforto interior de cada um.
Quisera, como seria fácil existir,
na cobertura do bolo azul,
no sabor adocicado de viver
em um mundo diferente,
onde sonhar fosse realizar,
sem que fosse...
Fosse necessário dormir.