Auto crítica

Sei que hão de achar tudo repetitivo. 
O que escrevo e digo.
Corro atrás das palavras que fogem,
como tudo, pouco a pouco se extingue.
Mas na pobreza, talvez medíocre
falha dos versos, encontro a paz,
uma forma também de escoar,
ver o tempo vazio, extinto.
De leve, mansamente, faço o papel tinta;
que fiquem os poemas
sem muitas buscas, nem pormenores.
Afloram e saltam às páginas
como pombas brancas,
velas que navegam através da borrasca,
talvez ao encontro das calmarias.
Assim são os medíocres temas,
que minhas mãos tremem por transmiti-los,
e olhos sensíveis que criticam o linguajar,
mas mergulham no fundo do que senti.
E digo, se algum tempo atrás o estudo,
o desejo de ser alguém batesse à porta
acertado fosse, ah, eu seria dentre tantos
o seu, o único poeta do mundo.
Mas também fui medíocre e pobre de espírito;
portanto, peco pelo desejo de ser o que não sou.
Ser um rabiscador de papéis
e não um jogador exímio com as palavras,
fazendo brotar risos em horas certas,
reflexão nas entrelinhas
e lágrimas pela destreza de delinear a saudade.
Fui, isso sei que fui, um desejoso de escrever,
tocar o papel e deixar que os dedos falem
tudo o que está semeado aqui no fundo,
neste fundo de poço de ignorância,
mas que sempre almejou pular fora.
Só que foi difícil e acabei ficando
retido, preso, mas tentando versificar
um pouco da vida.