Sem motivos

Sem razão, o brilho azul
neste céu, neste rosto que não mais seduz.
Sem razão, tanto amor,
abraços, desacertos.
Já não há mais razão
para tanta festa.
No ar explode a guerra,
na boca há fome,
no peito cala a dor.
Sem razão de ser nos olhos,
no canto furtivo a lágrima
aguarda, espera para o mergulho.
É um salto sem barulho,
já sem razão,
pois o mundo está esquecido.
Ninguém se aproxima.
As mãos estão fechadas;
o peito soa em silêncio.
A palavra foi jogada ao vento.
Há um vai e vem de tudo,
para uma ida e vinda do nada.
Sem razão para contar,
morrer ou ficar...
Sem razão para entender a razão,
o porquê da vida,
o princípio, o fim das coisas.
Não há sábio que defina.
Em todo lugar, pronto para explodir,
há uma imensa mina.
Cada um de nós é um estopim
sem causa, sem razão.
Há um querer, um desejo de vida,
de prosseguir não sei pra onde,
nesta façanha de existir sem razão.