Ausente

Eis-me aqui diante de ti

tendo-me despido de todos os meus mantos, tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses,

Para ficar sozinha diante do teu silêncio,

ante o silêncio e o esplendor da tua face

mas tu és de todos os ausentes o mais ausente, entre os enigmas, o mais inconstante e mais viciante.

Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca, nem teus lábios posso sentir, a tua ciência não posso discernir.

O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras, e ainda insisto, faço-me presente tentando segurar nas linhas do meus versos, aquilo que minhas mãos não conseguem.

E o teu encontro, tão desejado, é como um vago pensamento, distante

é cortante como um punhal teu silêncio, teu desmerecimento, indiferente se mantém afastatando-me de ti,

escura é a noite, revela verdades,

escura e transparente, quase posso toca-lo.

Mas o teu rosto está além do tempo, opaco, sob o véu do silêncio

e eu não habito no íntimo do teu silêncio, não faço morada no secreto dos teus pensamentos, resta-me guarda-lo aqui, intacto, do jeito que o criei em mim, no meu limiar poente...

porque tu és de todos os ausentes o mais ausente.