Homúnculo
No canto de minha alma gesta-se a miniatura de um ser feito de angústias.
Apático, ele escorre entre paredes cândidas e expansivas, esparzindo-se na alvenaria do vazio.
Em tua paralisia, ele suprime os gritos da alma em uma única expressão vibrante.
Meu abaporu existencial pende tua cabeça conglomerada e desproporcional.
És uma estátua orgânica capaz de pensar em demasia.
Contrariando a escola, ele aprendeu.
Refutando a incompreensão, o fiz compreendido ao firmar tua face no tempo.
Traindo a genética, amassei tua matéria prima em mutações.
E sufocando a depressão, ele ainda respira em mim.
Minhas mãos moldam a matéria do tempo, extraindo tua face da delicada massa sensorial que se acumula em meu existir.
A miniatura da existência cresce como uma flor nauseante, com tuas pétalas tão expostas ao mundo.
E ela descansa sob as formas sem rosto, esperando que um sentido a ela seja concebido.
O ser que em mim se faz, não possui nome ou parentesco.
Apenas uma silhueta de angústias.
E os meus devaneios o finalizam aéreo sob o mármore da dor.