Homúnculo

No canto de minha alma gesta-se a miniatura de um ser feito de angústias.

Apático, ele escorre entre paredes cândidas e expansivas, esparzindo-se na alvenaria do vazio.

Em tua paralisia, ele suprime os gritos da alma em uma única expressão vibrante.

Meu abaporu existencial pende tua cabeça conglomerada e desproporcional.

És uma estátua orgânica capaz de pensar em demasia.

Contrariando a escola, ele aprendeu.

Refutando a incompreensão, o fiz compreendido ao firmar tua face no tempo.

Traindo a genética, amassei tua matéria prima em mutações.

E sufocando a depressão, ele ainda respira em mim.

Minhas mãos moldam a matéria do tempo, extraindo tua face da delicada massa sensorial que se acumula em meu existir.

A miniatura da existência cresce como uma flor nauseante, com tuas pétalas tão expostas ao mundo.

E ela descansa sob as formas sem rosto, esperando que um sentido a ela seja concebido.

O ser que em mim se faz, não possui nome ou parentesco.

Apenas uma silhueta de angústias.

E os meus devaneios o finalizam aéreo sob o mármore da dor.

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 20/02/2021
Reeditado em 17/03/2021
Código do texto: T7189029
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