A Oferenda

Foi no auge da tristeza e da solidão

Numa noite outoniça de sofrimento

Onde lembrei de cada lágrima em vão,

Sem esquecer-me de um só momento.

Bramia eu contra o céu escuro:

Por que a mim tanto castigara?

Será que sou o pior dos impuros,

Eu que julgava ter a alma tão clara...

E enquanto o sôfrego pesar me dominava,

Lancei-me ao chão, onde fiquei caído,

E de repente o negro céu que me ignorava

Enviou uma gota de chuva a falar em meu ouvido:

Tua tristeza e tua solidão encantam

Aquela que não sabe o que é o amor...

Mesmo recebendo as juras que os boêmios declamam

Ela chora de longe vendo sua dor...

Ela que está sempre distante, errante,

Num mar de céu sem arpoador,

Ofereçe sua luz nesse infeliz instante

A ti; pobre alma de um sofredor.