Agonia
A porta está trancada sem previsão para abrir. O vento sopra as chaves que badalam como sinos. Elas prenunciam a longa estadia da espera. Ela me cerca e me observa. Das extremidades ao centro, repentinamente o corpo ferve. Por dentro, o calor ateia fogo. E por fora, deixa gotas de suor escorrendo. As pupilas dilatam e sinto que um líquido quente corre do centro para as extremidades do olho. O calor me cega. As mãos trêmulas e suadas tocam as pernas bambas, numa tentativa falha de sentir que ainda sou matéria viva e dona dos meus movimentos. Ruídos nos ouvidos formam a um quebra cabeça de palavras. “O que houve? Ei!!! o que houve?” escuto. O que houve? me pergunto. Eu não tenho resposta. Não consigo lembrar o que aconteceu. Não consigo expressar. Em quarentena pela pandemia. Isolada pela agonia.