Uma rua cinzenta

uma rua cinzenta e deserta

sem artifícios e causas alheias

paz podre escancarada e aberta

casas sem cor antigas e feias

duas mesas com gente apagada

em cadeiras brancas e molhadas

pelo açúcar que escorre das taças

no sonho vil de uma vida sentada

lá vai o cachorro morto e sarnento

magro sedento e só nas alvoradas

talvez exista uma escada no céu

por onde desça às vezes um anjo

que dance as cantigas no lamento

nas quimeras e na alegria do banjo

tenho muita vontade de me ausentar

desta minha varanda fria e sem véu

vou descer aos confins do meu mar

para não ter de morrer sem ver o céu

sei que vou encontrar o meu corpo

envolvido nas algas e no sargaço

pelo manto das águas consternadas

à espera de mim que lhe pertenço

mãe que me embala no seu regaço

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 30/10/2021
Reeditado em 31/10/2021
Código do texto: T7374989
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