Cadeira de Plástico seco

Cheguei nesse tempo de não aguentar nem minha própria respiração.

Não aguentar a estridência da vida no agudo do ar aquecendo minha boca

Janelas e portas estralam

O sol é sempre muito forte

Impregna as roupas, aumenta o cheiro da morte

Do pombo no meio da calçada. Tudo tem esse ar de vida atravessada

De colisão de carro com moto

Eu já não incomodo tanto quanto queria incomodar

Toda vida que me acomodo

Meus nós dos dedos ficam apertados

Difíceis de apontar

Péssimos pra escrever.

O povo é tudo fresco, fácil de quebrar

Como cadeira de plástico seco

Eu fico me contendo

Não penso. Não tenci-

Ono nada, não produzo argumentos

É só mais uma vez que eu morri.

Nia Ferreira
Enviado por Nia Ferreira em 10/11/2021
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