POEMA VAGABUNDO

Talvez eu esteja em pânico

e a inação trave a ideia

perpassada do medo

de ser totalmente incapaz,

talvez eu olhe dentro da matéria

e reflito o diletante conflito

do meu impróprio grito

que clama um tanto de paz,

talvez eu esteja cansado

desta batalha deletéria

que me detém refém

das escolham que não voltam,

talvez eu esteja perdido

e não queira admitir

que esta dúvida, este detrito,

não sejam passageiros das horas,

que certo seria aceitar a derrota,

o algo que busca a guinada

não contrapõe o nada que me busca

e não posso me lançar a sorte

se está escrito a minha desdita,

talvez só confronte a morte

com as últimas forças de vida

e meus poemas só sirvam

para mandar as sombras embora,

talvez eu não seja o homem prático

que estava destinado a ser,

meu lugar pode ser a apatia

e por isso seja tão difícil

ter o que dizer

que não sejam verborragias,

palavras insensatas e tão vazias

que só eu as sinto,

companheiro de mim,

alvo do meu próprio desprezo,

talvez eu espere que se resolva

sem que perceba a força

e por isso seja impossível

amar qualquer coisa que faça,

talvez eu até goste disso

e faça questão de me ferir

esperando o último prazo,

dando murro em faca,

despedaçando a minha vontade

até que esteja satisfeito

da solidão, da falta de respeito,

dos dedos cruzados,

das lágrimas que perturbam

meu sono conturbado

e eu lembro, com aquela sensação

de imigrante, dos muitos sonhos

de que eu fui bibliotecário,

de que eu fui professor,

de que eu fui poeta,

mas a verdade, só a ti falo,

é que eu não fui nada

e o pior: me esforcei nisso

decidido a jamais crescer,

a habitar no que sinto

desde que li nos olhos do mundo

como todo mundo me vê,

ainda agora que deveria

estar tecendo meu projeto,

só consigo me sentir imundo

e lavar minha dor

com este poema vagabundo!

Diego Duarte dos Santos

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 16/04/2022
Reeditado em 16/04/2022
Código do texto: T7496685
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