Interlúdio: entre a ribalta e o camarim.
Rios seguem sem os peixes, peixes não logram viver sem os rios,
Os bares estão sempre cheios, mas na verdade, cheios de vazios.
As canções agarram-se aos enormes tentáculos das saudades,
Nos marejados olhos, destarte, fulgem remotas recordações,
E perdem-se nos angustiantes vulgos mundos das possibilidades,
O que ilude, corta, inflama e desalinha, vulneráveis corações.
Cai a noite e a lua posiciona-se pálida, no além proscênio,
E as estrelas ignoradas pelos homens tristonhos e cabisbaixos.
A noite é o palco onde atua e perde-se o infeliz boêmio,
Enquanto a bebida sobe, o astral destoa, cada vez mais baixo…
Os vazios tudo ocupam e cada qual o preenche a seu jeito,
Uns se isolam, uns bebem, mas no fundo todos eles choram.
Difícil matar a saudade, de um grande amor, cravado no peito,
Enquanto o coração e a solidão, pelo já tão ido amor imploram.
Às margens do abandono está aquele que de todo se entrega,
E também às noites frias, infindas e a prantos propensas,
Aos amigos de açodadas desventuras em vão se apega,
Se o coração comanda, são as noites tristes, vazias e imensas!
O sol promissor de súbito torna-se instrumento de tortura,
O dia passa lento como um ferro em brasa pelas tênues epidermes,
O corpo em frangalhos, sofrido, a fuga e o alívio procura,
Pelas luas cheias, nas quais agem e proliferam-se os vermes.
Vida, vida!
Entre curas e feridas, entre remansos e redemoinhos,
Entre adeuses de partidas, entre e o vinagre e o vinho,
Entre amargas despedidas, entre o rumo e o descaminho,
Entre as sinas a menos querida, é a amargura de viver sozinho.