Menino e Homem em um Único Ser.

 

Existir é algo estranho,

Passei tanto tempo aprendendo a viver,

E de repente me vejo

Tendo que aprender a morrer.

Eis que apenas nos ensinam a viver,

E nós fica uma certa dúvida em como morrer.

Não se trata de pretensão,

Mas evento que se faz compulsório.

Portanto, não se trata de ser mórbido,

Pois creio-me antes amigo da alegria,

Do que da tristeza daquilo que tem inevitável fim.

Eis que foi difícil de acostumar-se com a vida,

E de repente de forma imperativa

Nossos dias nos obriga a conviver com os lutos.

Um ponto de partida, e um ponto final.

Pode-se crer nisto ou naquilo,

Exercer a transcendência da fé

Que antes entendo

Como uma espécie de além da razão,

Afinal, não foi este o ‘fruto proibido’?

Assim ainda que creia e tenha a minha fé,

Tal como aceito que cada um tenha a sua,

Pois que não existem senão versões

De verdades absolutas,

Portanto, sem ofensa aos dogmáticos,

Mas o relativo é companheiro

De quem busca francamente a verdade,

Seja ela, caminho para a felicidade,

Ou tenha por preço o incômodo de ser.

Um apóstolo do Cristo,

Escreveu algo como:

“Quanto eu era menino, pensava como menino,

mas, logo que cheguei a ser homem,

 acabei com as coisas de menino”.

Quantas vezes esta frase me justificou,

Mas hoje em sendo homem,

E sabendo o sê-lo

Vivo a buscar o encanto do menino.

Bem disse o mestre do apóstolo:

“Deixem vir a mim as crianças

e não as impeçam...”

E eu, cá em minha solidão de ser,

Relativizo para entender as duas frases,

Uma parece chamar a responsabilidade humana,

A outra parece indicar um caminho para o divino.

Então, nenhuma contradição,

E me entendo comigo,

Em sendo homem,

Preciso do menino para prosseguir meu caminho.

Pois que o homem perde parte do encanto

Por conta da razão,

Enquanto o menino

Mantém viva a possibilidade do encantar-se,

Que conduz a perspectiva da esperança,

Que parece ter conexão com a fé

De modo que o homem envelhece,

Enquanto o menino parece querer renascer.

E neste ir e vir,

Fico tão próximo de tudo que me cerca,

E vou ao mesmo instante, para tão longe,

Um lugar em o hoje perde sua dimensão.

Eis que neste lugar a razão é música,

O sentir são cores,

E de algum modo nisto

Ainda que nisto pareça haver loucura,

Meu sentir ecoa em meu silêncio

Que aí parece residir os meus maiores

Momentos de lucidez.

E então, concluo,

Só entende a criança que velho ficou,

Só consegue ser velho

Quem manteve viva a criança.

 

05/08/2023

Gilberto Brandão Marcon

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 19/08/2023
Reeditado em 20/08/2023
Código do texto: T7865637
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