Sinfônica
E ela se escondeu.
Talvez por temer que a luz a desnudasse, talvez por medo de desejar ser despida...
Tracafiou-se numa caixinha de música, e de lá somente saia pra dançar a valsa triste
girando por ruas imaginárias com seu guarda-chuvas rasgado
Aos poucos a pele se tornou alva, marmorizada e fria
como os sentimentos confusos dentro de seu coração.
O rosto se petrificou num riso abafado, de olhar distante
Desistiu de falar, e esqueceu-se das palavras,sua voz soava sinfônica, harmoniosa, mas isenta de qualquer significado.
Vez ou outra alguém lhe abria a caixinha,e por instantes lhe olhava valsar...
Mas as pessoas a sua volta, se incomodavam com a estranheza da bailarina. E decidiram que poderiam ajuda-la, devolver-lhe a vida perdida...
Um dia lhe tiraram o guarda-chuvas, e em seu lugar colocaram uma delicada sombrinha.
Noutro dia lhe retocaram os lábios.Agora ela exibia um sorriso ainda mais triste. Artificial e exagerado.
Mudaram-lhe as roupas e os cabelos. Trocaram-lhe a música.
Depois de um tempo, ninguém mais a reconhecia.
Raramente lhe olhavam dançar. Não havia mais encanto nela.
Era apenas plástico velho ocupando espaço na penteadeira...
E os anos se passaram sem que ninguém se desse conta que por trás daquele riso pintado e da pele petrificada, havia apenas uma menina triste, que sonhava com seu guarda-chuvas rasgado, e dançava tristes valsas imaginárias...