Sinfônica

E ela se escondeu.

Talvez por temer que a luz a desnudasse, talvez por medo de desejar ser despida...

Tracafiou-se numa caixinha de música, e de lá somente saia pra dançar a valsa triste

girando por ruas imaginárias com seu guarda-chuvas rasgado

Aos poucos a pele se tornou alva, marmorizada e fria

como os sentimentos confusos dentro de seu coração.

O rosto se petrificou num riso abafado, de olhar distante

Desistiu de falar, e esqueceu-se das palavras,sua voz soava sinfônica, harmoniosa, mas isenta de qualquer significado.

Vez ou outra alguém lhe abria a caixinha,e por instantes lhe olhava valsar...

Mas as pessoas a sua volta, se incomodavam com a estranheza da bailarina. E decidiram que poderiam ajuda-la, devolver-lhe a vida perdida...

Um dia lhe tiraram o guarda-chuvas, e em seu lugar colocaram uma delicada sombrinha.

Noutro dia lhe retocaram os lábios.Agora ela exibia um sorriso ainda mais triste. Artificial e exagerado.

Mudaram-lhe as roupas e os cabelos. Trocaram-lhe a música.

Depois de um tempo, ninguém mais a reconhecia.

Raramente lhe olhavam dançar. Não havia mais encanto nela.

Era apenas plástico velho ocupando espaço na penteadeira...

E os anos se passaram sem que ninguém se desse conta que por trás daquele riso pintado e da pele petrificada, havia apenas uma menina triste, que sonhava com seu guarda-chuvas rasgado, e dançava tristes valsas imaginárias...

Meri Jaan
Enviado por Meri Jaan em 21/12/2007
Código do texto: T786776
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